Nenhuma plataforma está acima da Constituição. Nem o Twitter.


A coluna da jornalista Julia Dualibi trouxe uma verdadeira bomba. A manchete: “Twitter causa espanto em reunião com o governo”. Linha fina: “Uma advogada do Twitter chegou a dizer que um perfil com foto de assassinos de crianças (perpetradores dos massacres em escolas) não violava os termos de uso da rede e que não se tratava de apologia ao crime.”


Julia informa ainda que o governo reagiu com um misto de indignação e espanto, já que a fala foi dita dias após o Brasil registrar dois terríveis ataques a escolas (aliás, outros dois aconteciam em Goiânia e Manaus enquanto a jornalista do grupo Globo nos brindava com esta notícia). Agiram bem, e estarão ainda mais corretos quando botarem cabresto nos executivos do Twitter.


As políticas de segurança e regras de uso do Twitter de fato favorecem o discurso extremista, provavelmente foi uma das grandes motivações do bilionário Elon Musk para aquisição da plataforma. Conhecido pela ardorosa defesa do libertarianismo (o primo moralmente mais decrépito do liberalismo do Alabama), Musk e família amealharam fortuna durante o apartheid na África do Sul. Há ainda seu apoio explicito a liberdade irrestrita de opinião, ou seja: liberdade para supremacismo branco, extremismo político e discurso de ódio contra qualquer um que não seja um branco rico de sobrenome Musk.


A posição da advogada está em consonância com as políticas adotadas pelo dono do Twitter, que como primeiro ato demitiu toda a equipe responsável por monitorar e coibir discurso de ódio na rede. Se hoje o espaço se tornou valhacouto dos espécimes mais degenerados que a humanidade produziu, agradeçam ao projeto de Musk. Não por acaso a extrema-direita celebrou o negócio, vislumbrando na rede um espaço alternativo aos fóruns e chans onde outrora se escondiam. Agora podem fazer sua pregação de morte a vista de todos.


Sem mais delongas, o caso é até simples: o Twitter pode enquanto empresa privada faturar em cima da miséria, o que não pode é se colocar acima da Constituição Brasileira. Elon Musk pode muito, mas não o suficiente para subjugar o estado brasileiro com sua imundície. Se ele costuma dar biscoito a extremistas brancos (ele próprio é um), tem toda a liberdade de fazê-lo. Mas a rede no Brasil deve respeitar nossa Constituição, nossas leis e instituições.


A resposta do governo ao troll máster deve ser bem didática para que outros apologetas da carnificina não se criem. Que se estabeleçam punições caso o Twitter não se enquadre. Na primeira uma multa que doa no bolso, na segunda suspensão da rede e na terceira banimento. Considerando as dimensões do Brasil e o engajamento de brasileiros na internet, haverá barulho, mas quem perderá mais é o próprio Musk.


É preciso ter em mente que muito palavrório não funciona com valentões como Elon Musk. A suspensão das redes ou até a prisão de executivos por descumprimento de decisão judicial e colaboração com extremistas não deve ser descartada, já que esta gente objetivamente colabora com assassinos e fatura alto com o discurso que terminou com a morte de quatro criancinhas naquela creche gaúcha. O Brasil cederá aos caprichos do Twitter ou defenderá suas crianças e jovens? A escolha não é muito difícil.[left-sidebar]

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