Uma pergunta a Antônio Risério

 


Tomo aqui a liberdade de desenhar para que os que compraram a lavagem ideológica de Antônio Risério entendam (se alguém seguir nesta defesa será por falta de caráter). A BBC lançou uma série já há algum tempo em que o mundo foi colonizado por potências africanas, incluindo a Europa. No lugar das grandes monarquias temos impérios negros e suas elites por toda parte. A religião, a língua, os costumes, tudo imposto pelos dominadores. A distopia que leva o nome de Noughts + Crosses retrata o que seria um mundo dominado pelos oprimidos da realidade, que ali fazem o que todo império faz de melhor. Naquela realidade há um racismo negro contra os brancos que leva o espectador desavisado (e acostumado com a cidadania plena quando branco) a se sentir mal. Bem, ali há racismo negro porque são eles que detém os instrumentos de poder, aqueles que estão nas mãos dos afrodescendentes nos delírios de Risério. O que existe hoje, quando muito, é o mau sentimento que as vezes resvala no ódio – mas que não é a realidade do movimento negro em sua totalidade. Ser racista é diferente, isto pressupõe um sistema de relações sociais pautadas na raça. Se o negro mal tem acesso a saneamento básico, como poderá fustigar os brancos?

Os defensores do Antônio Risério dizem que o debate não pode ser interditado, e estão corretos. No entanto, a lógica também não pode ser desconsiderada. Todas as mazelas que inspiram militâncias possuem pontos fora da curva: há trabalhadores que agem de má fé contra patrões, professores que fazem proselitismos em sala de aula, preconceito contra evangélicos, mulheres que agridem e matam seus companheiros, em alguns casos homens chegam a ser vítimas de estupro… Mas algum desses cenários pode ser comparado com situações opostas?

O identitarismo negro radical e com inspiração marxista está no poder? Os parlamentos foram tomados de assalto por este lobby? A maioria destas casas legislativas é formada por negros radicais? E as cortes superiores? As grandes empresas, os meios de comunicação, como estão? E o que dizer dos latifúndios? Não só o negro - mulheres, povos originários, imigrantes, minorias religiosas, gays e etc. Negros não estão no topo nem em áreas que costumam ser utilizadas como meios de ascensão social: no meio artístico os negros não controlam as principais produtoras, as gravadoras ou agências de talento. No esporte o Brasil sequer possui cartolas negros. De onde o abominável antropólogo tirou tais conclusões?

 Ao que se sabe continua tudo igual. O que há de novo é o lobby pré-iluminista que se ressente das consequências da democracia liberal. É o iliberalismo que não aceita a pluralidade incipiente do século XXI, onde o negro tem direito a reclamar, denunciar e mobilizar esforços. O ódio vem da falta de controle, da perda mínima de privilégios. Esta gente não foi criada para ser igual, ainda que alguns tentam se engajado com movimentos de esquerda no passado.

Aconteceu algo parecido no pós-Guerra Civil nos Estados Unidos. Abolicionistas brancos passaram a se incomodar com a pretensão (vista por eles como presunção) dos negros. Em pouco tempo viraram a chave propondo obstáculos à cidadania integral para os recém-libertos. 👇🏿 

Antônio Risério é um destes que passou ao outro lado. Antes progressista, agora denuncia a ousadia de quem ousa ser igual ao bem-nascido intelectual. E o faz por meio da desonestidade, nivelando tudo ao minúsculo radicalismo negro - que até existe, mas nunca lotou uma kombi. 

Até porque, convenhamos: se este pensamento fosse tão difundido Narlochs e Risérios seriam bem menos corajosos nas denúncias. Aliás, esta sociedade não suportaria receber de volta 1% da violência e crueldade que dispensou as vítimas de seu processo civilizatório. O que cabe ao final é uma indagação sincera: quem Antônio Risério pretende beneficiar com esta peça de ficção?[left-sidebar]

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