Apenas almas sebosas acreditam que pobres são porcos


Deu o que falar o vídeo em que o Excelentíssimo Presidente da República Senhor Jair Messias Bolsonaro se lambuza com um frango oleoso e farofa. Se servindo com as mãos, a maior autoridade do país deixa farofa cair pelo colo e pelo chão enquanto se serve de nacos de uma ave que morreu em vão. 

Não pegou bem, tanto que o responsável pela divulgação - o ministro das Comunicações Fábio Farias - tratou de apagar para evitar (em vão) que o desgaste fosse ainda maior. Soube-se mais tarde que a ode ao mau gosto contou com uma produção elaborada. Nos bastidores do festim diabólico estavam várias autoridades, colaboradores e a entourage que serve nosso inditoso líder. Todos comandados pela batuta de Carlos Bolsonaro, eminência parda que coordena a rede de mentiras que este governo chama de comunicação.

O propósito da ópera bufa foi esvaziar a revelação feita pelo jornal O Globo de que o presidente Bolsonaro gastou mais no cartão corporativo que seus antecessores. Tentaram simular o homem simples, o trabalhador em seu momento íntimo. Como se todos os brasileiros que não fazem parte da diminuta classe média e da pequena elite caipira fosse todos bárbaros.

Tudo o que a estratégia fez foi reforçar o ridículo de nosso Capitão de Milícias. De quebra mostrou a visão que esta gente tem dos pobres. A julgar pela cena boa parte do país é composta por hunos e visigodos que não foram apresentados ao mais básico invento da Era Moderna: os talheres. 

Aliás, este não é o primeiro fiasco da “comunicação” do governo. Recentemente Jair tentou provocar comoção na massa ao engolir um camarão inteiro (pago com nosso dinheiro) e dar entrada com obstrução intestinal. As reações majoritárias foram de escárnio, zombaria e desejo pela danação eterna do presidente – bem diferente do que aconteceu no episódio com o Adélio e na internação ocorrida ano passado. 

Este mesmo termômetro de torcida pela desgraça se comprova pelo festival de memes em torno do falecimento do guru gnóstico e autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho. Vítima de covid (doença que ele dizia não existir), Olavo se tornou chacota em plena sepultura. Suas imposturas foram cobradas sob a forma de vilipêndio da memória. Quer dizer, vilipêndio não é bem a palavra. Digamos que na hora mais escura o guru levou uma amostra grátis do ódio que pregava nas redes.

Voltando ao episódio da porquice presidencial, o que tivemos foi uma desastrada cortina de fumaça típica de quem não conhece o Brasil e despreza os pobres. Se este proscrito grupo político dedicasse ao Brasil a atenção que dão ao Texas, Alabama e Geórgia saberiam que por aqui há até uma expressão repetida por pobres do Oiapoque ao Chuí: “sou pobre, mas sou limpinho”. Outra expressão genial é de autoria do orgulhoso e genial povo pernambucano: “alma sebosa”, que usa a sujeira como ilustração das falhas morais de quem se acha digno desta ofensa. Diz o dicionário:

1.   (Pernambucomau elemento, pessoa nociva à sociedade, por exemplo, um ladrão, um estelionatário

2.   (Nordeste do Brasil e gíria) pessoa insuportável, ordinária, sem valor, mau-caráter, de má índole

Reparem que são termos que caberiam muito bem ao senhor Jair Messias Bolsonaro. Se alguns brasileiros comem com as mãos ou não fazem a higiene corporal da forma mais adequada à razão se deve à pobreza extrema e falta de saneamento básico e não a escolha individual pela imundície. O único imundo que temos é justamente a alma sebosa que ocupa a presidência da República de forma tão indigna.[left-sidebar]

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