O patriotismo que odeia o Brasil

 


O patriotismo bolsonarista odeia o Brasil Os ataques xenófobos do vereador Sandro Fantinel seguem repercutindo em nosso debate público mesmo após uma semana desde que o parlamentar subiu a tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul para ofender nordestinos. Não poderia ser diferente, já que o caso traz várias camadas. 


O que há de mais evidente o incidente é a aversão e preconceito a brasileiros oriundos do Nordeste, sobretudo porque o imaginário do brasileiro limítrofe imagina que a região é composta por caboclos e negros, logo inferiores se comparados ao Sul e Sudeste colonizados majoritariamente por alemães e italianos. Burrice, claro. Está no Nordeste a mais sublime herança cultural europeia que remonta da Idade Média, mas isto é outra história (ainda assim estará errado quem atribuiu maior riqueza a esta ou aquela origem, registre-se). 


O que deve ser lembrado é que o parlamentar representa o falso patriotismo que transformou parte de nossa população em zumbis do fascismo bolsonarista. Possuídos por esta legião de demônios, alguns que já foram nossos entes queridos e familiares passaram a demonizar uma região inteira que por uma série de questões não demonstrou o mesmo entusiasmo pelo extremismo de direita que nossos estimados sulistas.

O caso é que este patriotismo deve ser posto em perspectiva. Que sentimento de amor pátrio é este que despreza gente nascida nesta terra? Que abomina nossas costelas indígena e africana, que desconhece e abomina nossa identidade em prol de uma imitação banal e genérica do que enxergam como Europa? Reparem que é um patriotismo tão sevandija que mobiliza um parlamentar a atacar pessoas que denunciaram a situação de exploração de direitos a que foram submetidos. Onde fica a defesa da família, da vida e propriedade? Aliás, que suposto patriotismo é este que mergulha o país em uma guerra fratricida, onde defensores do contraditório correm risco de tomar tiros até em templos evangélicos?


É preciso se atentar a estes detalhes, é aqui onde reside o mal. Os defensores da vida querem apenas controle, os defensores da família querem tolher liberdades, quando se fala em propriedade não é os bens de quem tem pouco ou quase nada – mas o império de quem já sendo forte deseja aniquilar a dignidade de quem tem menos. A gênese orwelliana se denuncia quando o vereador menciona argentinos hipotéticos que não só aceitam a exploração como ainda agradecem ao empregador pelas migalhas ao final da temporada. Não, homens livres não agradecem o empregador porque o salário é a paga pela força de trabalho. Estas relações não se definidas (ao menos não deveriam) por agentes desiguais, mas por leis formuladas por instituições democráticas. 


O episódio do vereador apenas ressalta (como se ainda precisássemos de exemplos) que grande parcela do país está engajada em destruir o Brasil, reduzi-lo a cinzas para transformar o país em um grande fazendão onde seremos todos escravizados por aspirantes a senhores feudais. O falso patriotismo não passa de chantagem emocional ainda não compreendida por grupos progressistas que caem com facilidade no nó tático do extremismo de direita. Os democratas que desejam mudar o curso da história deverão entender não só as nuances, como também a missão imediata de recuperar os símbolos nacionais das mãos desta gente asquerosa.[left-sidebar]


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