É preciso frieza com os urros dos Faria Losers
Desde que Luís Inácio Lula da Silva venceu as eleições se estabeleceu o descompasso na relação do mercado financeiro com os rumos do país. Isso porque o segmento que se apresenta publicamente com o avatar de “Faria Lima” anda de fricotes com o programa econômico do futuro governo, pressionando Paraíba direção oposta.
Que direção oposta é esta? Aquela derrotada nas urnas? A indagação é pertinente, já que uma condução radicalmente oposta a que foi defendida na campanha configura estelionato eleitoral. Se é verdade que qualquer governo deve negociar e conciliar, também é fato que se presume coerência dos que participam da vida pública. Ceder tudo a Faria Lima é traição, assim como seria se deixar levar pelas pressões da parcela troglodita do Agro, das facções fundamentalistas das igrejas evangélicas e católica e do empresariado sevandija tão bem representado por Luciano Hang e congêneres. Ceder aos urros de forma acrílica é tão somente executar o plano de Jair Bolsonaro sem a presença física do presidente derrotado no governo.
É óbvio que as falas de Lula nem sempre são economicamente corretas para a massa amorfa conhecida como “o mercado”, a que desencadeou reação na Bolsa é uma delas. Importante que se diga a verdade: este setor não deu a mínima quando brasileiros morriam aos montes ou quando o presidente demoliu o Teto de gastos para comprar a reeleição. Houve uma reação imediata na bolsa que logo caiu no perdão costumeiro que aqueles abastados senhores concedem a quem garante lucros enormes enquanto 33 milhões conviviam com a insegurança alimentar.
Estes senhores se incomodaram com um único aspecto da fala de Lula: a prioridade social do orçamento. Se a lógica do capitalismo moderno concilia crescimento econômico com desenvolvimento social, a premissa dos Faria Losers antecede o Neolítico: querem PIB pujante e IDH, bom, na volta a gente compra. “Esperem o bolo crescer para que possamos dividi-lo”. Confia.
Estes sicários não se importam com os rumos do país ou de sua gente, prova disso é que nem a presença de pais do Plano Real na equipe de transição aplacou a ira dos viúvos de Jair. Um destes, que chegou a encomendar uma bizarra estátua do ministro Paulo Guedes vestido de Homem de Ferro, estava exultante hoje. Disse que a fala de Lula foi eleitoreira, dirigida apenas para sua base. O mesmo bacana apoiou todas as bizarrices de Bolsonaro para o cercadinho. Significa.
É evidente que Lula tem um grande desafio pela frente, mais cristalino ainda é que deverá pacificar o país e retirá-lo do lamaçal econômico em que aquele miliciano nos meteu. Não é pouca coisa, sobretudo se considerarmos que o primeiro governo Lula herdou o país de Fernando Henrique Cardoso, uma gestão vencedora que promoveu profundas e duradouras reformas. Este é o Brasil de Bolsonaro, feito de um projeto cuja máxima era o desmantelo amplo, geral e irrestrito. Qualquer liberal decente sabe da urgência dos investimentos em infraestrutura e setores estratégicos, que somados a investimentos sociais irão retirar o Brasil do fosso em que nos encontramos - isso passa pela revisão do teto de gastos. Os ressentidos que atacam esta obviedade simpatizam mais com o Idi Amin Dada demitido pelos brasileiros no dia 30 de outubro convergem integralmente com o ministro da Economia que lamentou a presença de filhos de porteiros nas universidades. A diferença é que muitos não têm coragem de sacrificar os fiapos de dignidade pedindo golpe na porta dos quartéis - mesmo que assumam vez ou outra preferir Pinochet a Lula.[left-sidebar]