Domingo começa a pior Copa do Mundo da história
Domingo, 20 de novembro, parte deste planeta estará representada na abertura da Copa do Mundo de Futebol. O evento realizado pela Fédération Internationale de Football Association, nossa querida FIFA. O campeonato promete: será a pior edição da Copa do Mundo de toda a história. Quer dizer, ao menos até a poderosa entidade sediar o evento na Coreia do Norte.
É preciso compreender o que se passa: os barões ladrões da FIFA não se importam muito com esta conversa de "magia do futebol", diversidade, pluralidade ou fraternidade entre os povos que sempre nos são vendidos como elementos místicos. A preocupação destes senhores é com grana. Muita grana. Se estes senhores aceitaram levar um dos principais eventos esportivos para uma terra onde impera o medo, tenham certeza que não foi por um punhado de dólares.
Foi por dinheiro (e apenas dinheiro) que estes senhores aceitaram sediar o evento em um país inóspito, distante e carente de qualquer infraestrutura. O glorioso Emirado do Catar é um país perdido no Oriente Médio, de clima seco, temperaturas absurdamente altas e uma sociedade que ainda não conheceu o presente século. Não se trata aqui de determinismo geográfico, eurocentrismo ou coisa que o valha. A realidade é que a Copa do Catar é uma homenagem à tirania e a morte.
Muito se diz sobre o assédio a jornalistas, o receio por parte de torcedores homossexuais que poderão sofrer o peso da lei islâmica por aceitarem o convite para a celebração do futebol ou da ameaça institucionalizada contra as mulheres, que podem sofrer punições severas por trajes considerados inapropriados ou ainda serem vítimas de assédio e violência sexual sem que as autoridades façam coisa alguma. Mas qual é a novidade? Estas condições já eram colocadas quando este reino neolítico se candidatou.
Aliás, violação de direitos humanos não deve espantar ninguém. A Anistia Internacional publicou relatório denunciando a morte de operários na construção dos estádios e demais obras. Segundo a entidade, o Emirado do Catar edificou os palcos deste evento sobre os corpos de quinze mil e vinte e um operários que morreram em acidentes nas construções. Estamos falando aqui de cidadãos pobres recrutados nos rincões do país sede e em outras nações pobres e emergentes como Índia e Bangladesh. Muitos jamais foram sepultados por suas famílias.
Por hora a polêmica é a proibição do álcool até para estrangeiros, que provavelmente resultará em um processo bilionário por parte da Budweiser, já que a gigante cervejeira não poderá levar a cabo uma série de eventos publicitários. O que não é sequer a primeira quebra de combinado por parte da Família Real do Catar, proprietários daquele território e só faz o que bem entende. Se hoje o untuoso Joseph Blatter diz que sediar a Copa naquele país é um erro não custa lembrar que tempos atrás o secretário-geral Jerôme Valcke disse que a federação deveria "dar um chute no traseiro do Brasil" por conta de alguns contratempos na organização do mesmo evento por aqui. Aquele escroque só se sentiu a vontade para dizê-lo. Mesmo emergentes e com muitas contradições, ainda somos uma democracia. Ninguém nesta entidade terá coragem de lidar assim com o emir Tamim bin Hamad al-Thani, monarca absoluto acusado (entre outras coisas) de violação sistemática dos direitos humanos e financiamento de terroristas.
Para os turistas (se é que o país receberá algum afluxo significativo de apaixonados pelo esporte dispostos a correr tamanho risco), a festa virá com sabor de chope com água. Festas com moderação, gestos vigiados e total insegurança jurídica. Para a imprensa idem, como ficou claro em um incidente com um jornalista dinamarquês interrompido ao vivo por truculentos jagunços. A celebração choca que esta festa pobre promete é uma tragédia anunciada, só foi realizada porque o dinheiro compensa. Porque o crime compensa. Neste acordo entre carniceiros fundamentalistas e gananciosos mafiosos de ternos bem cortados, só quem perde é o futebol. E a humanidade, é claro.[left-sidebar]