A primavera golpista



Os tempos de cinismo trazem o espanto com velhas notícias. Se pesquisas feitas em 2021 já apontavam Lula como favorito nas eleições de 2022, também é verdade que a retórica do bolsonarismo já anunciava a essência golpista. Quem olhar o noticiário passado e as imposturas do presidente Jair Bolsonaro e seus sicários por ocasião da vitória em 2018 verá que este grupo devota grande fidelidade ao crime e ilegalidade. Na saúde ou na doença, na vitória ou na derrota, a união com a inconstitucionalidade é sólida. O que acontece agora é uma primavera golpista. 

Se hoje alguém se espanta com cidadãos fanatizados a ponto de usarem os próprios filhos como escudos humanos nestes bloqueios de estradas é porque não prestou atenção nos últimos quatro ou cinco anos. Quem notou a semeadura do ódio não foi pego de surpresa pela vindima da ira. O bolsonarismo se valeu de todas as mentiras a seu alcance e até do aparato estatal para roubar a alma de milhões de brasileiros agora convertidos em zumbis. 

Não há nenhuma legitimidade nestes atos. Circula por aí a narrativa de que "não se trata de apoio a Bolsonaro, apenas não queremos Lula". O tempo de "não querer Lula" já passou: foi o período eleitoral. Os derrotados não podem reeditar a máxima lacerdista sobre Getúlio: "não deve ser candidato, se for candidato não deve ser eleito, se for eleito, não deve tomar posse, se tomar posse não pode governar".

O que este movimento propõe é criminoso por rasgar a Constituição, se bem-sucedido implicaria na violação de direitos de outros milhões de brasileiros. Estas pessoas pedem explicitamente que o voto de seus compatriotas seja desrespeitado, o que traz ainda a possibilidade prisões arbitrárias, tortura e morte de quem os venceu nas urnas. 

A mobilização criminosa curiosamente se vale de métodos até então condenados pela direita brasileira, como bloqueio de estradas e vandalismo. O paradoxo se completa pela leniência das autoridades policiais, que em quase toda parte atuam com doçura quando os suspeitos são brancos de classe média. Fossem pobres e pretos exigindo moradia, melhores salários ou protestando contra a violência policial é certeza que seus lombos experimentariam o monopólio da violência do Estado. 


A primavera golpista veio para ficar, mas seu triunfo se limita ao caos inicial. Não há apoio externo ou coesão interna que sustentem a empreitada. Táticas torpes como impedir o escoamento, inviabilizar tratamentos médicos, agredir trabalhadores e utilizar mulheres e crianças como escudo humano só evidenciam o caráter terrorista e a índole criminosa do bolsonarismo, fazendo surgir asco até entre brasileiros que apertaram 22 há menos de uma semana.[left-sidebar]

Tecnologia do Blogger.