A peça golpista que Bolsonaro apresentou aos embaixadores



Eis que Jair Bolsonaro fez exatamente o que se espera, que é arranhar ainda mais a imagem do Brasil no exterior. Em reunião convocada para a tarde de hoje (18/07), o presidente apresentou para embaixadores estrangeiros uma série de frases soltas reforçadas por matérias soltas e dados distorcidos que, segundo ele, provam que o processo eleitoral brasileiro não é seguro. Segundo o mandatário, até mesmo o pleito vencido por ele é ilegítimo, já que teria sido vitorioso no primeiro turno. 


O que se viu hoje é espantoso, mas apenas para quem leva a Constituição em consideração. Para um sujeito da estatura moral de Bolsonaro é só mais um dia, e o erro é nosso de esperar qualquer prurido moral de quem costuma cultivar amizades com milicianos e pedir medalhas e moção de aplausos para policiais criminosos. Fosse o presidente alguém que zelasse ao menos pelas aparências nós nem teríamos esta conversa.


Aliás, não há muito o que se dizer sobre o que foi dito pelo presidente aos embaixadores. Caluniar autoridades, espalhar pânico e desacreditar as instituições do próprio país que representa já foi feito pelo mesmo s
ujeito. Em 9 de março de 2020 ele estreou a tese da fraude que impediu sua vitória em primeiro turno sem sofrer a devida represália por parte da lei. É gravíssimo, mas passará impune (ao menos por hora) porque Jair soube se antecipar ao comprar de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco as indulgências para não ser arremessado de vez no inferno político que ele merece. 


Longe de ser tratado como o pária que é, Jair foi adulado por toda a sorte de gente: dos tolos medrosos que se encolhem como tartarugas diante da ameaça de golpe aos que veem uma oportunidade de negócios no caos reinante, como é o exemplo de Lira, Pacheco, Aras, Mendonça, Ribeiro e outros. Poucos, muito poucos, foram astutos para interpretar a linguagem oblíqua e dissimulada de Bolsonaro ao mesmo tempo em que demonstraram resistência a seu assédio golpista. Houve até aqueles que, a exemplo de Michel Temer e outros cretinos, julgaram que poderiam controlar a besta fera por meio de jantares suntuosos, cartinhas de boas intenções e apertos de mãos.


Seja como for, aqui estamos. Com muitos de nós repetindo a mesma careta de espanto diante do que há muito é anunciado. Não estamos falando de profecias como o sertão virando mar ou a descida do Filho de Deus entre nuvens de Glória, mas de um militar associado a milícia Escritório do Crime consolidando sua mais importante agenda política: derrubar a Constituição de 1988 através de um golpe de estado. O golpe não virá, o golpe já foi. Ele se deu no exato instante em que um criminoso entrou na presidência da República pela porta da frente, por incapacidade dos operadores das instituições em detê-lo por crimes "menores" como dizer que uma deputada não merecia ser estuprada por ser feia ou pela ameaça de fuzilar o então presidente da República Fernando Henrique Cardoso e mais umas centenas de parlamentares. 


Sendo Jair um sujeito que jamais escondeu sua intenção, não há que se ter espanto. O momento exige é atenção e firmeza. Mentir para diplomatas estrangeiros é grave, mas apenas um dos atos desta ópera-bufa. O que Bolsonaro pretende é acirrar ainda mais os ânimos de sua militância criminosa, insuflando o radicalismo de quem o tem por Messias. A estratégia é falar em democracia enquanto a mergulha na lama, fazendo brasileiros duvidarem dos fatos e acreditarem apenas em suas bravatas. "Afinal, você vai acreditar em mim ou nos seus olhos?", desafia o capitão terrorista. Ele avança porque congelamos, nos assombramos com tamanha desfaçatez quando deveríamos fazer frente a ameaça e exigir o cumprimento da Constituição. Talvez a oposição não tenha se dado conta, mas corremos o risco de não termos eleições se seguirmos nesta toada. Desde já os democratas devem tomar as ruas e exigir das instituições que se faça justiça. A violência e a mentira só triunfam quando não há homens e mulheres corajosos em número suficiente para desafiar a maldade.[left-sidebar]





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