O racismo e o Evangelho do espírito de porco

 


Me chamou atenção um vídeo em que um pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco emite sua opinião a respeito do que entende ser “o bom proceder do cristão”. Não estamos falando de ética, dignidade, humildade, amor ao próximo ou fome e sede de justiça. Estamos falando de algo que (ao menos na visão do distinto pastor) é mais importante que o idealismo proposto por aquele tal nazareno. O que o pastor reivindica no vídeo é que o homem cristão deve andar com seus cabelos cortados, principalmente se for negro. Nas palavras do pastor, não é adequado que o cristão (se negro) exiba aquela piaçava por aí (o vídeo está no instagram e no twitter do escritor Antonio Isupério).

Enfim, é o mesmo racismo de sempre. Quem conhece o universo das denominações mais conservadoras,  sobretudo as ligadas ao pentecostalismo clássico, como Congregação Cristã, Assembleia de Deus e Deus é Amor sabe como é (sem generalizações, é claro). A valorização dos “usos e costumes” passa necessariamente por uma identidade convenientemente branca. O fiel negro praticamente deve desculpas pelas características físicas implementadas em sua etnia pelo próprio Criador. 

Vejamos o caso do tal pastor, o líder Ailton José Alves. Na mídia local pernambucana ele aparece envolvido em indigentes e manchetes no mínimo impróprias para um sacerdote de Cristo. Sem entrar no mérito das acusações, o que salta aos olhos é que tudo isso se deu apesar do cabelo aparado, da barba escanhoada e da aparente sobriedade do irmão.



Escreve o jornalista: 




Não vou me alongar a respeito, muito já foi dito por gente mais importante e entendida de teologia e sociologia. Para não esticar o chiclete vou ao ponto que mais me tocou neste episódio: de onde o tal pastor tirou a conclusão de que o Criador é a cópia do próprio sacerdote? Sim, estes senhores sempre partem do princípio de que Deus é um homem branco, de cabelos aparados e vestindo ternos mal-cortados. O gosto musical, o senso estético e o horizonte estreito de gente fundamentalista e normalmente inculta representa visão da suprema divindade a respeito do que é justo e perfeito. 

Convenhamos, é muita presunção. Ainda mais se compararmos o histórico de algumas destas denominações, que além de tudo se posicionam na maioria dos debates como únicas e legítimas detentoras do Evangelho e da própria Graça. Reparem que não há a mesma veemência para condenar corrupção, arrogância e outras maldades. Parafraseando Mateus 23:24, eles "coam o mosquito e engolem o camelo. É o Evangelho do Espírito de Porco.[left-sidebar]

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