Sobre o Nazipardo que ameaçou Antonio Isuperio
O ativista Antonio Isuperio relatou ameaças por parte de um sujeito autodeclarado supremacista branco. Em termos bem particulares desta escória avisou que Isuperio não teria mais paz, que sua turma não gosta de pretos – quanto mais de judeus pretos e homossexuais. A parte grave é que o autor das ameaças tem nome e sobrenome: Aristides Braga é filho de um comandante da Brigada Militar gaúcha em Novo Hamburgo (seu pai é Alexandre Braga, que até agora não se manifestou sobre o crime). Neonazistas, extremistas e quetais vivem em relativa paz no Brasil, por razões tão diversas que não há tempo de esmiuçá-las em um simples comentário como este. Vamos a um ponto mais elementar: a melanina.
Sim, a melanina. Se para alguns é só uma proteína presente no corpo que dá coloração aos olhos, cabelos e principalmente à pele, para os supostos arianos tupiniquins ela é um estorvo biológico que denuncia sua fraqueza. Explico: quando vi a foto do cidadão fiquei incrédulo de que alguém com feições de caboclo pudesse elaborar um texto ameaçador e criminoso de viés supremacista BRANCO. Quando vi a foto do comissário Alexandre Braga ao lado do filho nazi e família veio a certeza de que estamos diante de um caso severo de dismorfia racial.
Aristides Braga, o criminoso que ameaçou Antonio Isuperio, é só um pouco mais claro que sua vítima. Fazendo uso da marchinha de gosto duvidoso escrita por Lamartine Babo, “O teu cabelo não nega, mulato”. Nem o cabelo, nem a pele ou as feições. Quem nega é o próprio Aristides, que se imagina branco. Branco não: ariano.
A sociedade precisa encarar este fato. Ninguém deve ter vergonha de sua etnia, quanto mais um rapaz como Aristides, filho de uma autoridade pública bem sucedida em sua carreira - mas o "garoto" prefere renegar as raízes, extirpar uma fração de si. Não seria o primeiro preto a buscar a “redenção de Cam”, infelizmente o fenômeno acontece nas melhores famílias (na minha, por exemplo). Ainda assim é fenômeno de periferia do capitalismo, onde o cidadão tenta parecer europeu e clarear a estirpe.
O caso de Aristides é extremo, seu racismo aparece com uma sistemática pouco usual em Pindorama. Se é compreensível que alguns de nós se transformem em monstros diante da histórica repressão a identidade negra (um caso próximo é o demoníaco presidente da Fundação Palmares, que não será aqui nomeado para não trazer mal agouro), é lamentável que alguns abracem alegremente o abismo que os contempla. O tal Aristides poderia ter orgulho de sua ascendência, mas prefere matá-la como um Édipo piorado assassinando o pai. É como Esaú trocando a primogenitura pelo churrasco grego da esquina mesmo alertado por Jacó das implicações do gesto.
O caso do Nazipardo de Novo Hamburgo é a expressão moderna de casos passados, é a novidade que busca exercer o espírito de porco com premissas alienígenas – o que torna a coisa toda ainda mais deprimente. Se a “Redenção de Cã” pintada por Modesto Brocos era uma repulsa indigesta por aquilo que o Brasil é, a tentativa vã dos que arrogam para si a tal “superioridade ariana” é triste, já que no século XXI os tais brancos deveriam ter aprendido alguma coisa. Estes arremedos de seres humanos não aprenderam nada e não esqueceram nada.
*P.S: vale também para os arianos de Taubaté.[left-sidebar]