Bolsonaro desmoralizou a cartinha do Temer na ONU


As horas seguintes ao fracassado autogolpe de Jair Bolsonaro foram tão caóticas quanto o resto de seu governo. O presidente percebeu que não tinha o apoio projetado para golpear a democracia naquele momento, decidiu então recuar para ganhar tempo (como sempre faz). Os mais racionais previram: logo ele volta a ser o que era. 

Dito e feito. Aconteceu ontem mesmo, desta vez no plenário da Assembleia Geral das Nações Unidas. O ato sem precedentes em nossa diplomacia marca o rebaixamento moral e a corrosão das virtudes e protocolos que supostamente norteiam a política externa. Não satisfeito em discursar apenas para seu curral, Bolsonaro dobrou a meta atacando o passaporte sanitário e afrontando a comunidade global com sua presença pestilenta no recinto. 

Aqui abro um parêntese importante: Bolsonaro fez desta viagem uma tour da vergonha, comendo pizza na rua por não ter recebido oficialmente a vacina, atacando manifestantes, difamando prefeitos e governadores (e por extensão o STF, que garantiu a autonomia destes entes no enfrentamento a pandemia). Para coroar a indigência moral, se fez acompanhar de dois infectados em sua trupe demoníaca.

Quem testemunhou o discurso percebeu o fosso que aparta certos editorialistas da realidade. Jornalões como O Globo e Estado de SP trataram a ida de Bolsonaro como uma “oportunidade”, esperando que daquela alma abissal surgisse um discurso coeso, pragmático e que convergisse com o interesse nacional. Uma ingenuidade que pode ser criminosa, o mesmo que contratar Suzane Von Richtofen para ser babá de seus filhos. 

O que não ocorreu a ninguém é que naquele plenário foi rasgada a carta de arrependimento fingido que o presidente divulgou a nação no último dia 08. Pressionado pelas consequências dos muitos crimes praticados, Jair pediu ajuda ao ex-presidente Michel Temer para hastear a bandeira branca com a carta. Foi certeiro, já que Temer tem acesso a mesas que não recebem Jair sequer na condição de cachorrinho. 

Mas o que será que motivou Temer (aquele) a tirar o pijama e se mandar até Brasília? Ninguém questionou o que o enrolado ex-presidente pode ter ganho nesta empreitada. Até a torcida do Corinthians já sabe que ali não se faz nada de graça, e que qualquer patriota de verdade fará tudo – menos se sentar a mesa com o indigente Bolsonaro. O que Temer ganhou com isso?

Bom, sabemos que ele se arvorou no papel de salvador da pátria. Chegou a dar entrevistas, fazer palestras e participações em programas. Até um vídeo “vazado” em que o comediante André Marinho imita Bolsonaro foi divulgado (ou melhor, vazado) pelo marqueteiro de Temer. No fim das contas, deu tudo em água. 

Deu em água porque Jair esperava só uma chance de promover a instabilidade. Deu ruim porque Jair é mentiroso e traidor contumaz, jamais perderá a chance de apunhalar um aliado pelas costas. Falhou porque o Supremo Tribunal Federal não retirou as investigações contra os aliados do governo envolvidos em fake news e atos antidemocráticos. Deu muito errado sobretudo porque Jair é Jair. Assim como o escorpião ingrato que assassina o sapo que o ajuda na travessia, Bolsonaro só pode agir de acordo com sua medonha natureza.[left-sidebar]


Tecnologia do Blogger.