O lixão moral de José de Abreu
Reconheço que José de Abreu é um dos grandes nomes da dramaturgia, poucos são capazes de criar tipos e dar vida a personagens como este veterano da TV. Sua carreira é memorável e não vejo reparo algum a ser feito. O que é constrangedor é o indivíduo José de Abreu. É difícil até supor que ocupe também a condição de “cidadão José de Abreu”.
Zé de Abreu era famoso mais pela obra que pelas ideias, e foi justamente quando se meteu no papel de ser pensante que a coisa desandou. Desandou mais pela práxis do que pela generalidade superficial. Embora defenda justiça, paz, igualdade e liberdade, a ação concreta sempre descamba para selvageria, degradação e crime.
É bom pontuar que este indivíduo é asqueroso sempre que ele se manifesta. Porque sociopatas sem freios não costumam ser parados no Brasil. Um deles virou até presidente da República. Igualmente forçoso é vaticinar contra os que tentam diminuir a gravidade dos vários crimes praticados pelo ator.
Sim, crimes. Em uma ocasião o ator agrediu verbalmente um casal e cuspiu na mulher (reparem, é sempre na mulher). Parecia que era o fim da linha, mas a Rede Globo tratou de dar palco para o maluco. Como bom homem branco que é, tudo foi esquecido após um arquivo confidencial e um choro calculado pelo mestre da interpretação. Ficou por isso mesmo.
Claro que outras vítimas vieram depois. Mulheres, quase sempre. Como bom aspirante a Bolsonaro, é para elas que Zé de Abreu guarda os ataques mais letais. A última vítima foi a deputada Tabata Amaral, que vejam vocês, ousou contrariar a ala da esquerda que não passou no psicotécnico. Foi o suficiente para ser eleita inimiga pública n°1. Mais até do que o tal Jair.
Esta mesma esquerda que de forma enérgica milita contra machismo, racismo e violência vê com espantosa naturalidade a ameaça não-tão-velada que atenta contra a integridade física de uma dissidente. Para piorar ainda fingem que não foi nada, isso quando não concordam de forma escancarada.
Zé de Abreu é isso, um escorpião que age de acordo com a própria natureza. A esta altura ficou claro que o elemento só deixará a conduta misógina e doentia se for internado em um sanatório judicial ou se passar pela estrada de Damasco como fez o altivo Saulo em seus tempos de glória terrena. A primeira hipótese é improvável, a segunda depende da vontade de Deus. Significa dizer que setores significativos da esquerda seguirão tratando o tio da Susodita de Chernobyl como seu cachorro louco de estimação.
Em um passado recente o mesmo Zé deu vida a um personagem marcante, o odioso Nilo de Avenida Brasil. Era um sujeito que de tanto habitar o lixão acabou se misturando ao abismo. Explorador de menores, violento e perverso, sempre disposto a derrubar alguém para ganhar um troco. Olhando em retrospectiva fica bem claro que Zé de Abreu não estava atuando: ele e seu personagem são exatamente iguais em seus fundamentos morais deformados. Para limpar a barra do global é preciso dizer que a diferença entre ele e o personagem é que o ator não explora trabalho infantil e vive confortavelmente em Paris. O problema é o lixão moral em que habita, tanto ele quanto alguns carniceiros do mesmo espectro ideológico.
Ah, não retruquem. Este tipo aí só não está junto com o genocida porque há um muro separando os dois, mas o odor é o mesmo.[left-sidebar]