Sikêra Júnior ter anunciantes é sintoma de doença da sociedade

 


O apresentador Sikêra Jr. sangra na mídia há semanas, vitimado que foi pela própria língua. Adesista de primeira hora do governo Bolsonaro e adepto da baixaria como método, o personagem cumpriu a fatídica profecia da bruxa que amaldiçoa o iníquo Waleran Bigod, subiu tão alto apenas para despencar de lá. 


A trajetória do apresentador se fez como o do presidente para quem ele dá palco. É um dos retratos de nossa leniência não tão recente com o que antagoniza com a civilização. Muito antes da saraivada contra homossexuais o tal Sikêra apostou no meme “CPF cancelado”. Em uma das ocasiões recebeu em seu programa o senador miliciano Flávio Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro, que exaltaram a brincadeira originada justamente no jargão da banda podre da polícia. Esta história de escalada da barbárie conta com o protagonismo de nomes como 


Sikêra e o próprio presidente, mas não só deles. Se no caso do presidente há o inequívoco desapreço de setores da política nacional com as ameaças verbalizadas contra a democracia, o apresentador foi fechando um contrato atrás do outro sem jamais ser questionado pelo departamento de marketing de seus anunciantes. Isto é gravíssimo.


É óbvio que tipos como Sikêra são carismáticos e mobilizam setores da audiência, mas não custa questionar a qualidade deste segmento. Imaginem uma marca de móveis com propagandas que fazem alusão a família e ao lar financiando um freakshow que lamenta a proibição do assassinato de filhos gays? Esta posição nunca foi exótica na boca de Sikêra, mas jamais incomodou os anunciantes até que se organizasse um boicote nas redes. O próprio apoio as execuções sumárias por parte de policiais deveria ser escandalosa, mas passou batido. 


Talvez seja o caso de se evitar qualquer proximidade com estes personagens do submundo estabelecendo nas organizações uma espécie de compliance social: a empresa não só evita problemas internos como também se livra da possibilidade de formular uma nota a cada vez que algum patrocinado se envolver em polêmicas. Quando se coloca publicidade em um espaço a dedução óbvia é de que há concordância com o conteúdo veiculado. 


Cabe ressaltar que o lucro é só o aspecto mais visível do capitalismo, que um sistema de mercado se faz também na crença de bases sólidas estabelecidas pela sociedade através de suas instituições. O linguajar quase miliciano de Sikêra atenta contra este ambiente, daí a associação com o tal ser tão baixo. A RedeTV! (que proporciona palco para Sikêra e Bolsonaro como estratégia comercial para vencer a irrelevância) conta com a insensibilidade dos departamentos comerciais de seus anunciantes. Não custa nada, exceto a alma dos envolvidos.[left-sidebar]


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