O jejum miliciano e o silêncio dos inocentes
Alguns dizem que é “pelo Brasil”, outros que é “pelo governo” e os mais desavergonhados e sádicos assumem que é pelo presidente. Também não há novidade aqui, a não ser a data tão próxima do 31 de março e das comemorações que o presidente planeja (em plena pandemia) para celebrar o infame golpe militar de 1964.
Alguns irmãos de fé podem ver inocência nestes gestos de subserviência, mas não podemos duvidar da capacidade dessa gente. Parte considerável da igreja evangélica também se prostituiu aos golpistas em 64, alguns até tomaram parte na repressão e tortura. O delírio sempre se soma ao oportunismo, e esta verdade é real tanto em 64 quanto agora.
Talvez o que piore o cenário de horror agora é justamente a experiência histórica. Já sabemos o que foi feito em 64, e ao contrário deles temos a internet como fonte inesgotável de informação. As obscenidades também circulam, ainda que alguns insistam em fazer dos fatos um self-service.
Quem lembra da comemoração do suicídio do voluntário da Coronavac. Todos viram. Todos viram o deboche com os mortos na pandemia e o recente uso político da morte de um policial militar que atirou em colegas na Bahia. Antes disso foram auxiliares do presidente demonstrando simpatia ao nazismo e supremacismo branco. Em que pese o apoio da cristandade ao totalitarismo de direita, é fato inequívoco que isto soa ainda mais indecente em um país onde a igreja é majoritariamente preta, parda e periférica.
Escrevo isso porque é necessário chamar os fatos pelo nome: quem pede jejum e vigília em prol de um sujeito como Bolsonaro não pode ser reduzido a massa de manobra, não. São cúmplices, partícipes deste festim diabólico que o presidente opera no Brasil. Estes pastores, líderes e fiéis que apoiam estas práticas também ceariam com Hannibal Lecter, talvez até repartissem o pão com ele. Bastaria que ele oferecesse algumas vantagens e repetisse alguns clichês (porque assim dá para encaixar alguma falsa narrativa a partir do Evangelho).
Enfim… Já somamos 303 mil mortos pela pandemia, com possibilidades de 400 mil graças ao esforço do incansável genocida Bolsonaro. Enquanto os lobos clamam por jejum e apoiam carniceiros, reina o silêncio dos inocentes que veem um país inteiro se transformar em uma sucursal do inferno.[left-sidebar]