A manutenção dos jogos de futebol: vitória do Genocídio F.C


O vídeo em que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol ameaça cartolas e menciona os interesses pela manutenção dos jogos de futebol é muito educativo, ilustra com de forma precisa o espírito do nosso tempo. Não há interesse humano, não há solidariedade. Os ganhos de uns poucos justificam o sacrifício de muitos. 


O presidente Caboclo deixa quais interesses ele representa: além dos próprios também fala em nome da quadrilha que tomou de assalto o governo. Ao bolsonarismo interessa manter o máximo de atividades possíveis em funcionamento para assim esvaziar qualquer esforço em prol do distanciamento social. Aos cartolas interessa seguir em frente por conta de patrocínios (o que parece ser também o caso da Rede Globo, que mencionada por Caboclo respondeu com uma nota tão frouxa que faria inveja ao ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia). 


Aquelas declarações me fizeram lembrar de uma treta no Twitter: muito exaltado, um jornalista bolsonarista (daqueles que não ousa dizer seu nome, mas que sempre se posiciona ao lado da milícia) defendia de forma inflamada a manutenção dos jogos de futebol e demais modalidades esportivas. Como é de praxe utilizou o argumento da solidariedade econômica: profissionais e funcionários dos clubes ficariam sem salário, o que justifica a continuidade das partidas enquanto o Brasil consolida a média de quase três mil almas imoladas todos os dias no altar da negligência.


Não preciso entrar no mérito: a solidariedade da malta é semelhante às boas intenções de Doris Denise Neumann, advogada gaúcha ligada ao Patriota e ex-candidata a prefeita na cidade de Nova Petrópolis. Bolsonarista até o último homem, Doris foi até a frente do Palácio do Piratini protestar contra as restrições sanitárias adotadas pelo governo do Rio Grande do Sul. Indignada ela tentou falar ao coração dos seus:

Os alemães vão entender a frase que eu vou falar: Arbeit macht frei. Não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre. Pois aqui nós estamos reivindicando o trabalho. Se o governador que foi posto por nós no poder para a decisão não decidir que nós possamos trabalhar, a gente tira ele!

É... Este é o tipo de pensamento por trás da lógica dos que defendem “economia acima de tudo, lucro privado acima de todos”. Já falei algumas vezes, é a lógica arcaica da escravidão, não há nada de novo aqui. O que surpreende é o cinismo. No caso do futebol, os que pedem a manutenção por vezes até abraçam razões humanitárias. “Imagine o povo sem futebol, como iremos proporcionar algum alívio para a população que está presa em casa?”


Os fatos recentes provam que não adianta jogar sem torcida. Quando não são os torcedores se aglomerando no entorno dos estádios são os atletas que quedam vítimas dos muitos surtos da covid. A recuperação é difícil e não se sabe exatamente como o organismo lida com as sequelas. Funcionários também são expostos, enquanto o vírus garante sua cidadela circulando entre estes hospedeiros. 


“Diga-se de passagem” (como diria o Craque Neto), o Reich hitlerista não foi feito apenas dos extremistas antissemitas, assim como o genocídio brasileiro não é sustentado apenas pelo curral bolsonarista. O que é lamentável é que se em outros tempos o esporte sinalizou ao povo como esperança de dias melhores, hoje é operado pelo fanatismo do lucro acima de tudo. A manutenção dos jogos de futebol é uma grande vitória do Genocídio F.C, e quem não gostou morde as costas.[left-sidebar]

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