O padre não falou nada de errado
Um padre do interior chocou a boa sociedade brasileira ao emitir falas contra o presidente Jair Bolsonaro. E o fez do púlpito da Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Artur Nogueira. A Diocese de Limeira se apressou em pedir desculpas ao mandatário ofendido (ou denunciado?) enquanto o sacerdote deixou claro que mantinha todas as suas convicções. O vídeo, por motivos óbvios, viralizou.
Das críticas de quem não gostou da fala boa parte se resume a politica. Ou melhor, a baixa política. Outros imaginam que o púlpito da igreja não era lugar para uma declaração de cunho político mesmo que as colocações tenham fundo de verdade. Muitos discordam do uso político do púlpito, e esta questão merece ser discutida. Muitos críticos argumentam que a Igreja Católica brasileira está perdida no marxismo, enredada pela Teologia da Libertação. Levando este ponto em consideração é possível dizer que a fala do padre seja só uma declaração enviesada. O padre Edson Tagliaferro pode ser um terrível comunista de batina? Sim. Mas o erro aí se reduziria ao ideário do sujeito e não a fala.
Sim, a Igreja enquanto corpo de Cristo deve obedecer as Escrituras. Seus membros devem orar pelos líderes políticos - mesmo os mais terríveis. Porque toda autoridade foi constituída por Deus. Isso vale para Bolsonaro tanto quanto valeu para Nero, Constantino, os Médici e outros. Mas o argumento de que lideranças não devem denunciar os crimes de autoridades parece um pouco inocente. Para não dizer conivente... Mesmo fora da comunhão de Roma me identifico como cristão desde sempre. Como quem tomou parte nas mobilizações de rua que culminaram no afastamento de Dilma Rousseff a lembrança ainda é clara: nos púlpitos cristãos de todas as denominações havia a condenação explícita da ex-presidente. Pouco se lembrava de Romanos 13 nessas horas. Isso quando a presidente não era atacada por supostamente encarnar os valores que ameaçavam os aspectos mais fundamentais da fé cristã.
Aliás, de lá para cá muitos opositores radicais se tornaram governistas intransigentes. Muitas franjas radicais e fundamentalistas deram mãos aos vendilhões do templo na defesa do atual governo. Jair conseguiu fazer sentar na mesma mesa católicos tradicionalistas, calvinistas, batistas, pentecostais, comunidade judaica e neopentecostais. A transação custou apenas a alma dos envolvidos.
A denúncia e exortação do padre Edson sobre o pecado que foi votar em Bolsonaro pode ser explicado de várias formas plausíveis. Uma delas foi a adesão (racional ou não) a um discurso de violência diametralmente oposto ao Evangelho de Cristo. A outra foi a confiança cega na política em detrimento da provisão divina: confiou-se tanto em Jair como nosso Salvador e garantidor do exercício da Fé que este se tornou a quarta pessoa da "trindade", uma espécie de miliciano atravessador que garantiria a nós a profissão de fé. Mesmo quem votou de forma sincera condescendeu com isso. O coração do homem é leviano, quem diz isso não é Clara Nunes, mas Jeremias 17: 9-10.
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? 10 Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.
Mas pedir perdão por qual razão? O motivo está aí, mais de 60 mil mortos enquanto o presidente negligência suas funções. Nós, a maioria que se colocava como parâmetro de moral, elegemos um carniceiro. Foi permissão de Deus, foi ele quem permitiu que nos conduzíssemos pelos desígnios de nossos corações. Não podemos fugir da colheita amarga, apenas reconhecer. Sobre o governo (que ainda é apoiado por tantos irmãos), só resta o lamento e a luta. De certo muitos cristãos sinceros vacilaram e apoiaram Hitler e Mussolini, assim como é certo que muitos outros se arrependeram e se mobilizaram em ações e orações para que Deus tivesse misericórdia. Bolsonaro não é e nunca foi cristão, a cristandade que se deixou seduzir por motivos alheios ao Espírito Santo. Pegar uma estrada errada é da vida, mas a identificação do erro requer arrependimento e retorno.
E por este motivo não há nada que se condenar na frase do padre. Se ninguém é capaz de provar que ele mentiu, se não há como defender o presidente de forma que não se denuncie a maldade de quem o faz, então que se inocente o padre. Aos que se incomodam com discursos políticos proferidos por autoridades religiosas ou em púlpitos, que se lembrem disso quando a miríade de pastores picaretas e católicos tradicionalistas fascistoides se manifestar pelo pior presidente da história.[left-sidebar]
E por este motivo não há nada que se condenar na frase do padre. Se ninguém é capaz de provar que ele mentiu, se não há como defender o presidente de forma que não se denuncie a maldade de quem o faz, então que se inocente o padre. Aos que se incomodam com discursos políticos proferidos por autoridades religiosas ou em púlpitos, que se lembrem disso quando a miríade de pastores picaretas e católicos tradicionalistas fascistoides se manifestar pelo pior presidente da história.[left-sidebar]