O Maoísmo Bolsonarista e seu Grande Salto ao Abismo
A decisão por parte do Ministério da Saúde em esconder os dados sobre a pandemia do covid-19 causou revolta, mas não surpreendeu ninguém. Aquilo foi uma simples decisão estratégica contra o desgaste provocado pela política delinquente do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento (no caso seria "não enfrentamento) da doença. Chegamos a terrível fase da revolta sem surpresa. É só indignação e perplexidade, mas não há mais espaço para a surpresa quando o caos virou norma.
A opção de culpar a imprensa por terrorismo é o mesmo que espancar o mensageiro, ação típica dos que pensam apenas com a força. No entanto o governo nunca disse que faria o contrário e até mesmo se jacta de conduzir as coisas desta forma. É a filosofia do valentão da escola, a ética do m miliciano, essência que mesmo carente do verniz teórico é exatamente a mesma do maoismo.
Mao Zedong também sacrificou o próprio povo, também fabricou inimigos fictícios que incluam desde os intelectuais pró-Ocidente e simpatizantes da monarquia até traidores dentro do próprio regime. O experimento de loucura pública estimulada por seu governo batizado de "Revolução Cultural" não passou de ódio induzido para tudo que estivesse fora de seu regime. Mao ceifou a vida de mais de trinta milhões de chineses com o "Grande Salto a Frente", Jair provoca um holocausto com a diretriz do "Economia acima de tudo, Interesse Político acima de todos". Junto com a ideia fixa no autoritarismo, culto a personalidade e flerte com a esquizofrenia olavista temos a política de Estado conhecida como "Grande Salto ao Abismo".
É tudo sobre poder, inclusive a negativa da política. A afetada abnegação de Olavo fazendo chantagem emocional com o entorno de Bolsonaro é a mesma de carniceiros como Mao. Avançar sobre os dados talvez se relacione mais ao que os dados representam do que o número em si. Jair sabia que muitos morreriam na pandemia, mas tratou de anestesiar sua base e de se insurgir contra o isolamento.
Por hora o projeto do presidente encontra apenas dois obstáculos definitivos. Um deles é o tempo, já que não estamos mais em 1964 e qualquer ruptura drástica isolaria o presidente e precipitaria seu colapso em uma era em que o discurso da Guerra Fria é anacrônico e a internet submete o governo a uma eterna vigilância. A outra dificuldade é que o bolsonarismo se iguala ao maoismo apenas na insanidade e na violência. Aliás, isso vale para qualquer outro regime ou escola de pensamento autoritário. Por hora esta são as únicas garantias de que não teremos o fim agonizante dessas ditaduras, ainda que não nos livre do custo humano dessa aventura delirante.[left-sidebar]